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Republicanos cresce e ganha espaço entre os partidos da direita

A legenda é dirigida por Marcos Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus

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 Marcos Pereira, deputado (SP) e presidente do Republicanos  

FOTOS: Dida Sampaio / Estadão

O xadrez partidário nacional tem uma nova força na direita. Com 211 prefeitos eleitos nestas eleições, o Republicanos entrou na lista dos dez maiores do País, sendo o mais conservador deles. Das grandes cidades, o partido vai governar Vitória, Campinas e Sorocaba, conquistadas nesse domingo, 29, no segundo turno, mas já havia expandido sua atuação como força eleitoral com vitórias no primeiro turno em pequenos e médios municípios, formando um exército ainda com 2.572 vereadores que podem facilitar seu plano de fundo: ampliar a bancada federal no Congresso.

Já no primeiro mandato como deputado, o presidente do partido, Marcos Pereira (SP), chegou ao cargo de vice-presidente da Câmara e agora almeja suceder ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição interna do Congresso é o próximo tabuleiro da política.

Os prefeitos eleitos pelo partido superam, por exemplo, os 183 vitoriosos do PT. Foi um ganho de mais de cem prefeituras. Em 2016, haviam sido 106 eleitos, então pelo PRB, nome antigo da legenda. Nas duas primeiras eleições municipais, o Republicanos elegeu 54 prefeitos em 2008 e 80 em 2012.

Sem amarras ideológicas e com apetite por espaços no governo, o Republicanos apoiou os últimos três presidentes da República: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer - controlou as pastas da Pesca, do Esporte e da Indústria nos dois governos mais recentes. Atualmente abriga, ainda que “de passagem”, dois dos filhos parlamentares de Jair Bolsonaro: o vereador no Rio Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ).

Na bolsa de apostas, é um dos partidos aos quais o presidente pode escolher se filiar para a reeleição em 2022. Diferentemente do fracassado plano de criar o Aliança pelo Brasil, no Republicanos o clã Bolsonaro não teria o controle de verbas, nem poder de vetos, avisou a cúpula da legenda, vacinada pelas brigas que o presidente e seus filhos causaram no PSL. O partido não tem, no momento, plano de disputar o Palácio do Planalto com candidato próprio daqui a dois anos.

Origem

O Republicanos foi criado há 15 anos com incentivo de líderes evangélicos. O partido surgiu em 2003, tendo como maior nome o ex-vice-presidente José Alencar. À época, o nome era Partido Municipalista Renovador, abandonado em 2005, ano em que a Justiça Eleitoral concedeu o registro definitivo. O PRB, Partido Republicano Brasileiro, durou até 2019, quando ganhou uma nova roupagem, numa tentativa de deixar para trás a imagem de um partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e que apoiou governos indiscriminadamente em troca de cargos.

Desde 2011, a legenda é dirigida por Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-diretor da Record TV. Desde então, ele profissionalizou a estrutura, ergueu uma sede em Brasília e lançou uma faculdade própria voltada à formação política. Dedicou-se por anos apenas ao comando da sigla. Procurou moderação e montou uma estrutura própria de comunicação. Abriu cada vez mais espaço a políticos de fora da Universal, alguns progressistas e não necessariamente evangélicos, superando uma atuação meramente religiosa.

Na bancada, há nomes como Luizão Goulart (PR), ex-prefeito de Pinhais com 30 anos de PT, e Silvio Costa Filho (PE), cujo pai, o ex-deputado Silvio Costa, era um dos mais aguerridos defensores de Dilma Rousseff contra o impeachment no plenário da Câmara. Apesar disso, o segmento cristão segue como uma das forças da legenda, como celeiro de candidatos, dirigentes, militantes, doadores individuais a campanhas, seja em dinheiro ou panfleteiros.

“Um partido que deseja ser grande não pode ser sectário, de um segmento, precisa ser mais amplo. É partido político. A igreja tem um limite, tem um tamanho na sociedade, não posso ficar restrito. Não é uma barreira por preconceito ou por ser conservador, mas sim uma barreira aritmética”, diz Pereira. “Não somos mais uma força evangélica, somos uma força híbrida.”

A intenção do deputado, que promoveu uma reforma no programa e no estatuto do partido, é posicionar a legenda na centro-direita, e dar enfoque a propostas liberalizantes na economia, embora ele admita que a pauta moral é cara à bancada da legenda. O presidente da Frente Parlamentar Evangélica é o deputado do Republicanos Silas Câmara (AM), cuja família dirige a Assembleia de Deus em Belém, a mais forte na região Norte. Outro recém-filiado é o pastor Marco Feliciano (SP), da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento.

A direção do Republicanos, aliás, não acreditava na vitória de Bolsonaro. E continua a rechaçar “extremismos”. Em 2018, o partido era um dos cinco expoentes do Centrão cortejados por candidatos à direita e à esquerda, mas que terminaria aliado ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. O empresário Flávio Rocha, das lojas Riachuelo, chegou a ser pré-candidato pela sigla, mas a candidatura foi abordada por não deslanchar em pesquisas de intenção de voto, um sinal do pragmatismo eleitoral corrente na legenda.

O sucesso eleitoral do Republicanos tem método. Há anos, a direção nacional orienta-se por pesquisas do Instituto Informa. Elas ajudam a traçar as estratégias eleitorais. O partido testa nomes e escolhe candidatos mais competitivos em cada Estado, que são privilegiados com recursos. Oferece a eles os melhores números de urna, aqueles mais fáceis de memorizar. Muitos deles são pastores, nomes já consolidados na política regional e estrelas de TV. Em 2020, foi a vez de apostar em delegados.

Bancada na Câmara

O crescimento contínuo verificado nas eleições municipais também se repete na Câmara. Hoje, o partido tem a sétima maior bancada, com 32 integrantes. A maioria se diz independente, alguns são notórios bolsonaristas, mas nas contas finais o partido vota 90% a favor das pautas do Planalto. Desde a primeira eleição geral em 2006, o Republicanos passou de um eleito apenas para oito em 2010, 21 em 2014 e 30 em 2018. Essas duas eleições, a de prefeitos e deputados federais, têm uma correlação direta, segundo estudiosos do sistema político brasileiro.

O cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, considera que o Republicanos está “bem encaminhado” para crescer novamente em 2022 com base nos resultados obtidos neste ano. “Eles foram muito bem, visto que está provado cientificamente que quanto mais vereadores e prefeitos melhor é sua eleição para a Câmara dos Deputados dois anos depois. Os prefeitos recebem emendas dos deputados, e em troca fazem campanhas para eles”, diz Praça. “Se prestarmos atenção demais no desempenho deles em São Paulo e no Rio perdemos tendências mais profundas desta eleição. Os Republicanos têm dois filhos do presidente filiados e o apoio de campanha da Universal, isso dá uma força que nenhum outro partido possui. Eles são identificados com a agenda legislativa moral do bolsonarismo.”

Por outro lado, o Republicanos esforça-se para se desvencilhar de reveses na sua maior vitrine até agora, a prefeitura do Rio de Janeiro, administrada pelo prefeito Marcelo Crivella, bispo da Universal e sobrinho de Edir Macedo, o fundador da igreja. Na contramão das expectativas, o prefeito não conseguiu ajudar nem eleger o próprio filho, Marcelo Crivella Filho, deputado federal em 2018, ressente-se um dirigente do Republicanos, para quem a gestão no Rio “só trouxe desgaste”.

As pesquisas internas que o partido encomendava já mostravam dificuldades no Rio e em São Paulo, o que faria a direção nacional resistir às candidaturas do prefeito do Rio Marcelo Crivella e do apresentador e deputado Celso Russomanno. As duas derrotas são atribuídas mais à má gestão de Crivella e erros de estratégia e comunicação de Russomanno, além de um desgaste de seu nome, que não conseguem nem avançar ao segundo turno na capital paulista há três campanhas seguidas.

“As duas derrotas não são do partido. Elas mostraram que o eleitor não queria Celso como prefeito, e que o carioca reprovou o Crivella. As pessoas não rejeitaram o partido, mas sim os candidatos. Tanto que elegemos sete vereadores no Rio e quatro em São Paulo”, afirma Pereira.

Logo depois do primeiro turno, a aposta dele, para balancear a provável perda da segunda maior cidade do País, com 4,8 milhões de eleitores, eram as disputas no último domingo em Vitória, São Luís, Campinas e Sorocaba. Destas, o partido só perdeu na capital maranhense. “A continuidade do sucesso depende desses gestores”, prevê.

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