Graças ao carisma e às teorias da conspiração, Benevenuto Daciolo, ou Cabo Daciolo (sem partido), conquistou a internet em 2018 quando se candidatou à Presidência do Brasil. Na época, recebeu 1,26% (1.348.323) dos votos registrados em primeiro turno e saiu na frente de velhos nomes da política, como Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos).
Apesar do sucesso nas eleições de dois anos atrás, o ex-bombeiro sumiu da cena política no pleito municipal de 2020. Na última quarta-feira (2/12), Daciolo concedeu entrevista virtual ao Metrópoles e contou onde esteve nos últimos meses. Ele também falou sobre as expectativas para 2022, quando sairá, mais uma vez, candidato à Presidência da República.
Cabo Daciolo acredita que, apesar de não ter sido eleito em 2018, ganhou visibilidade pelo fato de ter lançado o jargão religioso “Glória a Deus”. Por isso, vai tentar conquistar a vaga novamente.
“A minha maior missão nesta terra – e aqui é uma grande passagem – é poder anunciar o reino de Deus, e a população nacional hoje proclama o ‘Glória a Deus’. Eu agradeço a Deus pelo carinho da multidão, do povo, porque apesar do lugar que estamos passando, o carinho e o amor do povo é muito grande, sempre ouvindo um ‘Glória a Deus’. No ‘plano espiritual’ isso é profético. Foi uma grande vitória!”, disse.
Eleições municipais
Daciolo conta que sofreu um “boicote” nas eleições municipais de 2020. Ele seria candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo Partido Liberal – o ex-bombeiro se filiou à sigla para concorrer ao pleito. “Me filiei ao PL no início do ano com o propósito de virar candidato, mas por conta da Covid-19 pedi ao partido para não anunciar a minha intenção de concorrer à prefeitura. Queria, de coração, poder mostrar um trabalho verdadeiro e, em 2022, voltar a tentar ser presidente”, disse.
Apesar do crescimento do ex-bombeiro nas pesquisas, a legenda preferiu apoiar o agora prefeito, Eduardo Paes (DEM). “Paes foi para cima do PL: os convenceu a abrir mão da minha candidatura e apoiá-lo. Não sei exatamente os termos da negociação. Então, na verdade, fomos boicotados!”, falou à reportagem.
Questionado pelo Metrópoles acerca do caso, o diretório nacional do Partido Liberal afirmou em nota: “A direção nacional do PL tem por norma não comentar declarações de pré-candidatos preteridos nas disputas dos diretórios estaduais. Portanto, a legenda liberal não examina pleitos de queixas locais, visto que delega plenos poderes aos comandos estaduais”. A reportagem também tentou contato com o PL no diretório estadual do Rio de Janeiro, mas não obteve retorno.
Ainda sim, Cabo Daciolo acredita que o imprevisto não passou de um “livramento”. Para ele, Marcelo Crivella (Republicanos) e Eduardo Paes (Democratas), candidatos que disputavam o segundo turno da Prefeitura do Rio, eram “inelegíveis”. “Eles são culpados, assim como outros políticos, desse mar de lama e corrupção em que se encontra o Rio de Janeiro”, finalizou.
Até maio de 2020, Eduardo Paes (DEM) estava inelegível por ter sido condenado, em 2017, por abuso de poder político-econômico. Posteriormente, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Jorge Mussi concedeu liminar para suspender a validade da decisão judicial que o tornou inelegível. Às vésperas da eleição, em 20 de outubro de 2020, a Justiça determinou o bloqueio dos bens de Paes.
Com Crivella, não foi diferente. O bispo licenciado da Universal também estava inelegível devido a condenação por abuso de poder político e conduta vedada. Em outubro de 2020, sob o argumento de que havia “aparente fragilidade do conjunto probatório no sentido da efetiva participação de Crivella no evento narrado”, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Mauro Campbell suspendeu a inelegibilidade.
Daciolo crê que Paes e Crivella já tiveram chances de demonstrar suas competências em gestões passadas. “Cabo Daciolo é branco, nulo e abstenção. Nulo contra essa quadrilha instaurada no Rio de Janeiro, ambos sob liminar e ambos são inelegíveis”, afirmou Daciolo, sugerindo que o número de abstenções no estado pode ter sido pela insatisfação da população com os candidatos.
Eleições presidenciais de 2022
Para Daciolo, apenas na Presidência é possível, de fato, realizar algo afirmativo em prol do país. “A minha pretensão é vir candidato nas majoritárias. No meu coração, creio que vou ser o presidente da República. Vamos ensinar o povo a tratar o próximo da maneira que gostaria de ser tratado: a grande transformação vem do amor. Em 2022, serei novamente candidato à Presidência, se assim as portas forem abertas pelo senhor, porque uma cadeira majoritária não é só você querer vir.”
O ex-bombeiro fez duras críticas aos deputados federais, senadores e aos partidos. “Uma coisa eu sei, passei pelo Congresso Nacional, e ali é uma grande mentira, existem verdadeiras quadrilhas lá dentro. Infelizmente, aqui no Brasil nós não temos candidatura avulsa, você precisa estar filiado a um partido para concorrer nas eleições. Partidos são o câncer da nação. Hoje, você vê o Fundo Eleitoral e Partidário batendo R$ 2 bilhões. Esse dinheiro poderia estar sendo usado na pandemia de agora, estava tudo fechado e abriram tudo nas eleições só para pegar esse dinheiro. Então, a pretensão para 2020 é a Presidência. Essa cadeira pode ser a solução para a nação”, finalizou.
Quem é Daciolo?
Daciolo ganhou visibilidade em 2011 ao liderar uma greve de bombeiros no Rio de Janeiro, que reivindicavam melhores salários. O cabo e mais 12 bombeiros foram expulsos da corporação e presos por violar o artigo 142 da Constituição Federal – a lei veta a greve de militares de qualquer estado do país. Posteriormente, após ficar quase um mês preso em Bangu 1, Cabo Daciolo voltou à corporação, graças à anistia que recebeu do ex-governador Sérgio Cabral, por fim, foi promovido a terceiro-sargento.
Ao jornal O Globo, no dia 17 de abril de 2011, Daciolo declarou que a medida estava sendo tomada em prol da valorização do trabalho dos bombeiros. “O protesto é uma reação à política do Estado, que desrespeita e desvaloriza o trabalho dos bombeiros. O movimento nada tem a ver com a postura dos comandantes das unidades operacionais. E não estamos contra a população. Nossa missão é salvar vidas e precisamos do apoio da coletividade.”
Três anos depois, Daciolo iniciou seu primeiro mandato na carreira política. Foi eleito deputado federal pelo PSol, em 2014 e, um ano depois, foi expulso do partido por propor uma emenda constitucional que alterava o primeiro parágrafo da Constituição Brasileira, de “todo poder emana do povo”, para “todo poder emana de Deus”.
Finalmente, em 2018, Daciolo decidiu se candidatar à Presidência do país, agora pelo Patriota. No debate dos candidatos da TV Bandeirantes, Daciolo questionou o adversário Ciro Gomes (PDT) sobre o Foro de São Paulo e a Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) e, imediatamente, alcançou uma grande visibilidade com a teoria.
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