A Polícia Federal em Mato Grosso do Sul mandou um celular de Loester Trutis (PSL-MS) para o Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília (DF), a fim de extrair os dados contidos no aparelho. O setor técnico-científico da superintendência regional não conseguiu acessar as informações, pois o deputado federal se negou a fornecer a senha quando o smartphone foi apreendido, em dezembro passado, durante a Operação Tracker.
A segunda perícia foi um dos motivos que levaram o delegado da Polícia Federal Glauber Fonseca de Carvalho Araújo a pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a prorrogação do prazo das investigações sobre o suposto atentado contra Trutis. O despacho com o pedido foi assinado no último dia 6 e consta no quarto volume do inquérito que implica o deputado em falsa comunicação de crime, dano e disparo de arma de fogo.
Segundo laudo elaborado na superintendência regional da PF, a perícia só conseguiu extrair mensagens de texto promocionais do celular apreendido, uma vez que “não dispõe de recursos materiais para a realização do desbloqueio e dos exames periciais necessários”. Os agentes esperam que a diretoria técnico-científica do Instituto Nacional de Criminalística destrave o aparelho para coletar os dados.
O ofício encaminhado ao instituto pede urgência, “tendo em vista que a requisição de exame em questão refere-se a pessoa de foro privilegiado cujo procedimento investigativo é proveniente do STF”.
Polícia Federal extraiu quase 100 GB de dados do celular de assessor de Trutis
Além disso, a Polícia Federal pediu mais tempo ao STF para se debruçar sobre os dados que conseguiu extrair de outros celulares, cujas senhas foram fornecidas pelos alvos dos mandados de busca e apreensão.
Conforme laudos, as perícias de dois aparelhos apreendidos com o assessor de Loester Trutis, Ciro Nogueira Fidelis, produziram quase 100 GB em histórico de ligações, contatos, mensagens (SMS e instantâneas), imagens e vídeos. Inclusive, arquivos apagados foram recuperados.
Os peritos também obtiveram informações a partir dos celulares do irmão de Loester Trutis, Alberto Carlos Gomes de Souza, e do integrante do chamado “Movimento Conservador de Mato Grosso do Sul”, Jovani Batista da Silva.
Laudos e tecnologia desmentem versão do deputado
As investigações da Polícia Federal acerca do suposto atentado de fevereiro de 2020 se voltaram contra o próprio parlamentar a partir de trabalhos periciais. Laudos balísticos, de exame de local e informações de georreferenciamento entraram em rota de colisão com o que alegava o deputado e seu assessor.
Assim, a PF concluiu que o atentado foi simulado por Trutis, de olho em dividendos políticos e eleitorais. O parlamentar é um entusiasta voraz da flexibilização do Estatuto do Desarmamento.
A polícia identificou que ele sequer foi seguido no dia do suposto ataque a tiros. Além disso, a descrição dada pelo deputado federal sobre o veículo supostamente envolvido no atentado atentado contra ele levou os investigadores a uma caminhonete “antiga e deteriorada, que certamente não teria condições mecânicas razoáveis para ser utilizada em um atentado em face de alguém que estava embarcado em um potente Toyota Corolla”, conforme descreve o inquérito.
Com base no trabalho da PF, a ministra Rosa Weber deferiu os pedidos para busca e apreensão contra Trutis, seu irmão, Fidelis e Jovani Batista da Silva. Para a magistrada do STF, as provas obtidas no âmbito da investigação podem implicar Loester Trutis nos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.
STF negou pedido para trancar investigações
Em dezembro passado, a defesa de Trutis ingressou com dois habeas corpus idênticos em pleno recesso judiciário, a fim de trancar as investigações contra ele. No primeiro, o presidente do STF, Luiz Fux, não viu urgência em decidir e mandou de volta o processo para seu relator, ministro Dias Toffoli. No segundo, negou o pedido liminar.
Antes entusiasta da Polícia Federal, Trutis partiu para o ataque contra o trabalho da instituição a fim de se defender das acusações de ter armado o atentado. Sua defesa já classificou o inquérito como “frágil” e sugeriu que os investigadores manobraram a apuração para forjar sua culpa.
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