Publicado em 21/11/2019 às 14:14, Atualizado em 29/11/2019 às 18:19
Filho de Jair Bolsonaro consegue apoio suficiente para assumir a liderança do partido na Câmara.
Numa nova reviravolta na disputa de poder dentro do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, o deputado filho do chefe de Estado, Eduardo Bolsonaro (SP), conseguiu nesta segunda-feira (21/10) assumir a liderança da legenda na Câmara. A mudança foi confirmada pela Secretaria Geral da Mesa da Diretoria da Casa.
A troca de comando da legenda ocorreu após Eduardo apresentar uma nova lista com assinaturas de deputados em seu apoio. A ala bolsonarista conseguiu reunir 28 assinaturas consideradas válidas para tirar do posto o antigo líder, o deputado Delegado Waldir (GO).
Segundo as regras da Câmara, a mudança do líder de um partido na Casa é oficializada com um documento direcionado ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e assinado pela maioria absoluta dos parlamentares da legenda. O PSL tem atualmente 53 deputados. Assim, Eduardo necessitava de 27 assinaturas para assumir a liderança da legenda.
Segundo a imprensa brasileira, Bolsonaro atuou pessoalmente para influenciar o processo. Waldir chegou a afirmar que o presidente tentou comprar parlamentares para assinarem a lista favorável à nomeação de Eduardo, em troca de cargos e do controle do partido.
Há uma semana, a ala bolsonarista tentava derrubar Waldir, que reconheceu a derrota nesta segunda-feira e entregou o posto antes da confirmação oficial da Câmara. "Aceitamos democraticamente uma nova lista que foi feita por parlamentares. Já estarei a disposição do novo líder para, de forma transparente, passar para ele toda a liderança do PSL. Queria agradecer aos parlamentares que confiaram nesse nosso projeto, dizer que não sou subordinado a nenhum governador, a nenhum presidente, e sim ao meu eleitor", afirmou Waldir num vídeo em que reconheceu a derrota.
No vídeo, Waldir disse ainda que o comando do PSL desistiu de suspender as atividades partidárias de cinco deputados bolsonaristas, que impulsionaram a tentativa de mudança na liderança: Alê Silva (MG), Bibo Nunes (RS), Carlos Jordy (RJ), Carla Zambelli (SP) e Filipe Barros (PR). A suspensão impedia que o grupo representasse o partido em atividades na Câmara, dificultando a nomeação de Eduardo.
Após a reviravolta, Eduardo afirmou a jornalistas que desejava apenas que o PSL "voltasse a ser o partido do governo" e se recusou a falar como líder da legenda, alegando que tinha a informação que a ala rival apresentaria uma nova lista.
A barulhenta disputa pelo controle do partido, entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE), começou há duas semanas. A crise interna se agravou em meio a trocas de farpas e provocou um racha na legenda.
O conflito pela liderança da legenda na Câmara foi marcado pela divulgação de áudios de ambos os lados. O primeiro, vazado na quarta-feira, foi do próprio presidente que tentava conseguir o apoio de parlamentares do PSL para tirar Waldir. "Estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, e colocar o outro. A gente acerta", disse o mandatário a um interlocutor desconhecido.
No dia seguinte foi a vez de Waldir ser o alvo do vazamento. O deputado ameaçou "implodir" o governo de Bolsonaro, em conversa gravada dentro de seu próprio gabinete. "Eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo", afirmou na gravação.
Num novo desdobramento, ao ser questionado sobre o áudio, inicialmente, Waldir recuou, afirmando que a declaração foi dada num "momento de emoção", mas no dia seguinte voltou a elevar o tom, afirmando que "não retira nada" do que falou no áudio.
O jornal Folha de S. Paulo revelou na sexta-feira que Bolsonaro acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para processar Waldir por ameaça. Segundo o diário apurou, a equipe do advogado-geral André Mendonça está estudando quais medidas criminais podem ser aplicadas contra o deputado.
Crise no PSL
Oficialmente, o grupo de Bolsonaro no PSL mantém o discurso de que está insatisfeito com Bivar por causa da falta de transparência no comando da sigla e a eclosão das suspeitas em torno das candidaturas de fachada em Pernambuco. Ainda assim, o próprio presidente da República vinha insistindo em manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também é suspeito de comandar um esquema similar de candidaturas laranjas em Minas Gerais.
Já os apoiadores de Bivar acusam o grupo do presidente de querer controlar a gorda fatia do fundo partidário que cabe ao PSL desde que a sigla se tornou a segunda maior bancada da Câmara. O fundo deve chegar a 110 milhões de reais neste ano.
Independente do motivo da disputa, uma troca de farpas entre Bolsonaro e Bivar na semana passada acabou detonando uma crise interna na legenda. Nos dias que se seguiram, a imprensa brasileira revelou que Bolsonaro e seus aliados no PSL planejam deixar a sigla. Porém o plano ainda esbarra nas regras eleitorais, já que os deputados bolsonaristas que resolverem eventualmente deixar a legenda correm o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.