Publicado em 18/12/2018 às 09:50, Atualizado em 22/12/2018 às 12:36
Se a tendência atual continuar, poderemos ver aumentos de temperatura de 3 ºC a 5 ºC no fim do século.
O ano de 2018 foi o quarto mais quente da história desde que os registros começaram a ser feitos, em 1850. Perdeu apenas para 2016, 2017 e 2015. Isso quer dizer que os quatro últimos anos foram todos os mais escaldantes desde o início das medições com termômetros.
Os dados são do relatório Estado do Clima Global, da Organização Meteorológica Mundial, a OMM. Divulgado todos os anos pouco antes das conferências do clima, o documento faz um compilado dos extremos climáticos do ano um alerta para os negociadores de 196 países que se reúnem dias depois para tentar chegar a acordos sobre a melhor maneira de enfrentar esses extremos. A reunião deste ano acontece em Katowice, na Polônia.
O que são mudanças climáticas?
Segundo o relatório, a temperatura global até outubro de 2018 foi 0,98 ºC maior que a média da era pré-industrial (1850 a 1900). Entre 2014 e 2018, a média foi de 1,04 ºC. Neste ano, um fenômeno La Niña, o resfriamento cíclico das águas do oceano Pacífico, ajudou a abaixar os termômetros ligeiramente no mundo todo. Em 2016, o oposto aconteceu: um El Niño forte turbinou o esquentamento recorde.
O que é aquecimento global?
Mas sem a tendência subjacente de aquecimento global o El Niño não teria esquentado tanto o mundo dois anos atrás e a La Niña o teria resfriado mais. Os quatro recordes consecutivos indicam que, mesmo removendo a variabilidade natural cíclica, o clima segue em marcha inexorável de aquecimento. Além disso, há sinais de um El Niño retornando em 2019, o que pode tornar o ano que vem mais quente do que este.
O gelo marinho no oceano Ártico teve sua segunda menor extensão máxima e sua quarta menor extensão mínima. O teor de calor nos oceanos foi, de janeiro a setembro, o maior ou o segundo maior da história, e o número de ciclones tropicais (furacões e tufões) foi maior do que a média.
Extremos de calor também marcaram o ano, em especial no hemisfério Norte. A OMM relata a onda de calor que atingiu a Escandinávia no primeiro semestre, causando incêndios florestais raros acima do Círculo Polar Ártico. A gélida Helsinque, na Finlândia, cuja média de temperatura no mês mais quente do ano é 17 ºC, viu 25 dias seguidos de calor acima de 25 ºC. O Japão e a Coreia do Sul bateram recordes nacionais de calor (41,1 ºC e 41 ºC, respectivamente), e uma cidade de Omã registrou a maior temperatura noturna já medida na Terra 42,6 ºC. Neste mês, incêndios florestais arrasam partes da Califórnia, nos EUA, com 79 mortos no incêndio Camp.
Também houve frio intenso na Europa em fevereiro e março, uma das ondas de frio mais severas dos últimos anos (sim, extremos de frio também são previstos num mundo em aquecimento; entenda por que neste vídeo).
Neste ano, a OMM também computou os impactos socioeconômicos dos eventos extremos. Em 2017, ano para o qual há dados disponíveis, a fome associada a eventos climáticos afetou 59 milhões de pessoas apenas no continente africano. No mundo inteiro, das 17,7 milhões de pessoas forçadas a deixar seus lares, 2 milhões o fizeram por conta de eventos climáticos, segundo o relatório.
No começo de outubro, o IPCC, o painel de cientistas climáticos da ONU, publicou um relatório especial mostrando que a humanidade terá 12 anos para cortar 45% das suas emissões se quiser evitar um aquecimento global potencialmente catastrófico acima de 1,5 ºC. Na última terça-feira, a ONU Meio Ambiente lançou outro relatório indicando que mesmo para a meta menos ambiciosa de estabilizar o aquecimento em menos de 2 ºC será preciso triplicar os esforços.
Nós não estamos no rumo de cumprir as metas climáticas e conter os aumentos de temperatura, disse o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas. As concentrações de gases de efeito estufa estão mais uma vez em níveis recorde e, se a tendência atual continuar, poderemos ver aumentos de temperatura de 3 ºC a 5 ºC no fim do século. Taalas lembrou uma frase famosa do ex-presidente americano Barack Obama:
Vale repetir que nós somos a primeira geração a entender completamente as mudanças climáticas e a última que ainda pode dar um jeito nelas.
Fonte: Observatório do Clima