O empresário Marcelo Odebrecht afirmou que a subconta "amigo", que contabilizava os recursos que seriam usados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada em 2010 com um saldo de R$ 35 milhões. Segundo ele, o acerto foi feito com Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, que era o contato do PT com o Grupo Odebrecht desde gestões anteriores, de Emílio Odebrecht e Pedro Novis, que antecederam Marcelo no comando.
- O Lula nunca pediu diretamente, combinei via Palocci. Ao longo de alguns usos ficou claro que era para o Lula, alguns saiam em dinheiro e ele pedia para descontar do saldo "Amigo" - disse Marcelo, em depoimento ao juiz Sérgio Moro na última segunda-feira, tornado público na manhã desta quarta, depois que o STF abriu o sigilo das delações do Grupo Odebrecht. Moro determinou o fim do sigilo no início da manhã.
Marcelo disse que as únicas comprovações que ele tem de uso dpo dinheiro por Lula foi a compra de um imóvel que seria destinado ao Instituto Lula, cujo contato teria sido feito ou via (Paulo) Okamotto ou José Carlos Bumlai. Como o Instituto Lula acabou não ficando com o prédio, o valor voltou, segundo Marcelo, a ser creditado na subconta amigo. Além disso, outra parte dos recursos foi doada por meio do Instituto Lula.
- Quando ele (Palocci) pedia para Brani (Branislav Kontic, assessor de Palocci) pegar dinheiro em espécie saia do saldo 'amigo' ou 'italiano' - disse o empresário.
Marcelo afirmou que a conta do PT na construtora foi iniciada em 2008, para abastecer as campanhas municipais, a partir de um pedido de Antonio Palocci.
Segundo o empresário, ele se comprometeu a dar dinheiro para a campanha presidencial de 2010, que era seu principal compromisso, mas que o valor poderia ser sacado antecipadamente pelo partido.
Todo o recurso, segundo ele, foi controlado por Palocci até 2010. Marcelo disse que em 2011 ele passou, a tratar com Guido Mantega, a pedido do próprio Guido, que passou a ser o "pós itália".
O nome planilha especial italiano foi criado por Hilberto Silva, segundo o empresário, a partir de um pedido para que fosse feita uma contabilidade dos recursos a ser acompanhada.
Marcelo Odebrecht disse que os recursos eram destinados principalmente a pagar campanhas feitas pelo publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, que já tinham relacionamento anterior com a Odebrecht. Marcelo disse que o publicitário sempre temia as campanhas políticas, devido ao risco de ficar com dívidas no final. Por isso foi feita antecipação de recursos na conta, para deixá-lo tranquilo.
- Era para dar um conforto a ele (Santana) - explicou.
Moro perguntou como surgiam os codinomes
- Era de maneira natural. Eu pessoalmente conhecia 10 codinomes, o "italiano" já existia antes de eu chegar. Sempre que falei "italiano" eu estava me referindo a Palocci, a relação com Palocci precedia a mim - afirmou.
- Codinome italiano eu só usava para me referir a Palocci - garantiu.
Departamento de propinas foi criado em 1990
O empresário afirmou ao juiz Sérgio Moro que o setor de "Operações Estruturadas" do grupo, que se tornou conhecido como departamento de
propinas, foi criado no início dos anos 90, quando a empresa se internacionalizou, para acabar com o descontrole na contabilidade da empresa. Segundo ele, toda a geração de recursos de recursos não contabilizados era feita por meio de offshores no exterior, mas havia "grande demanda" de distribuição no Brasil.
O setor sempre ficou, segundo ele, subordinado ao presidente da construtora, ou das contrutoras do grupo, que chegaram a cinco.
Ao chegar à presidência da holding, Marcelo Odebrecht decidiu manter como subordinado direto o responsável pelo setor, para evitar conflitos. Para ele, a criação do setor foi uma "evolução" do modelo de pagamentos.
- A pessoa de distribuição (de recursos), por uma questão de disciplina, ficou comigo. Neste momento, a pessoa era Hilberto Silva - afirmou.
Segundo Marcelo, foi Hilberto quem pediu para mudar o nome do departamento para "Operações Estruturadas", já que o antecessor dele era denominado "assessor" e, devido à nomenclatura do cargo, "todo mundo sabia o que ele fazia".
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.